Há três palavras na língua portuguesa de que gosto bastante. Pela sua fonética, pela sua organização de letras, pela sua boa disposição. Não sei porquê mas são palavras que quando ditas ou ouvidas me fazem cócegas na alma. Essas palavras são: maminhas, badalhoquice e gelatina. Importa dizer que não têm de vir necessariamente todas ao mesmo tempo, mas este fim-de-semana tive oportunidade de visitar um local onde duas destas três palavras se impunham com força. Sim, eu fui ao Salão Erótico de Lisboa.
A minha experiência de vida dentro do mundo do erotismo tinha apenas como base o interior de quatro paredes e muita privacidade. Nunca tinha visto um strip ao vivo, nunca tinha visto sexo ao vivo (em que não estivesse envolvido, claro) e pessoas com pouca roupa só mesmo na praia. O único contacto que tinha tido com o mundo XXX foi uma vez que, depois de um jantar regado a Sangria, fui a um Peep Show com amigos. Garanto-vos que a ucraniana que dançou na sala apertada não me mostrou nada que eu já não tivesse visto noutras mulheres.
Portanto, o que eu esperava do Salão Erótico era megalómano e envergonharia mesmo qualquer actriz porno. Não fazia a mínima do que esperar lá dentro porque não tinha termos de comparação. A sexualidade é ainda tabú e quando a medimos sem conhecimento de causa, imaginamos sempre extremos, repletos de chantily e luzes neón. No fundo, imaginava que no Salão Erótico toda a gente estaria a fazer sexo uns com os outros, freneticamente, durante três dias sem parar. Era claro que tinha de ir.
Deixe-me dizer que é completamente diferente do que podem imaginar. Não há assédios, não há violações, não há tarados de mãos nos bolsos. Muitos, pelo menos. Há controlo, há organização, há profissionalismo. E há ainda uma regra simples. Se lá entraste é porque aceitas aquilo que lá se passa. Vão ver pessoas nuas, pessoas a terem relações sexuais e milhares de genitais, mas dos profissionais a ganharem a vida. Não seria de esperar outra coisa, visto que não existe “sexo” ou “erotismo” sem o corpo humano a não em engates manhosos via HI5. O salão erótico é um espaço de publicidade, é um local específico de venda, seja de pessoas, filmes, objectos, empresas ou locais. É como um salão de artesanato mas com mobília que vos pisca os olhos enquanto lambe os próprios mamilos.
O público que lá anda também é completamente diferente do que imaginei. O meu principal medo antes de lá ir era visitar as casas de banho. Era o sítio onde imaginava as piores coisas, aquelas que me poderiam chocar ou mesmo infectar com doenças raras e violentas, mas não houve problemas ou cenas dispensáveis em “horas de aperto”. As pessoas que por lá andavam eram bastante heterogeneas. Há gajos de boné, casacos compridos e um historial duvidoso sim senhor, mas são uma pequena percentagem. Há centenas de homens com amigos. De fato, gravata e gel no cabelo, que vieram do emprego a correr ver só “um strippezinho!”. E há casais. De todas as idades e feitios. Ricos, pobres, góticos, betos, gordos, magros, benfiquistas ou do Trofense, da aldeia ou da Lapa. Não há característica comum ao público do Salão Erótico senão estar no Salão Erótico. E talvez praticar sexo, mesmo que sozinhos.
É uma experiência engraçada que me mostrou o erotismo de uma nova forma, que me mostrou como o sexo pode ser vendido e comercializado sem ter de ser ao frio, encostado numa esquina de um prédio. Aprendi a saber apreciar um striptease, vi quais as melhores formas de vender e fazer filmes porno (sei lá o que vou estar a fazer profissionalmente daqui a 20 anos depois de ser despedido do sétimo Mini Preço) e reconheci no povo português uma frescura de pensamento, uma abertura a novas experiências que não estava à espera de ver. Estamos a crescer como povo, estamos a amadurecer como civilização, estamos a perder amarras sociais e conservadoras como pessoas. Só faltava mesmo uma coisa no Salão Erótico. Gelatina.
Com milhares de preservativos à borla no casaco,
Guilherme Fonseca
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