Eu adoro beijar. Não há melhor coisa para se fazer, principalmente se for com alguém com quem queremos muito estar. Podem acontecer coisas igualmente boas depois, antes e até durante um beijo mas nada é melhor que dois pares de lábios a tocarem-se. Sob o risco de soar a “badalhoca” dedico este texto ao beijo; à bela arte de troca saliva e quem sabe, herpes; ao turbilhão de máquina de lavar que consegue ser um ósculo.
Tenho de começar por defender o beijo porque é sem dúvida o verdadeiro preliminar e nunca lhe fazem essa menção. Nunca qualquer outro dos preliminares vai conseguir ter o charme e a classe de um beijo e toda a gente os prefere. Não que sejam maus, longe de mim ser parvo ou seminarista, mas um beijo tem um poder especial tanto como tem personalidade. De certeza que já deram beijos atrevidos, retraídos, possessivos ou até egocêntricos. Eu pelo menos tenho uma boca autenticamente bipolar.
Se há coisa em que não faço ideia se sou bom é a beijar. É difícil saber-se. Porque mesmo que acertemos o ritmo ou a forma podemos estar a acertar com uma pessoa e falhar redondamente com a seguinte. Não nos podemos cingir a um estilo. A verdade é que existem de facto pessoas que beijam muito bem naturalmente. São tão raras como o monstro Lochness ou a razão para o Miguel Veloso falar na terceira pessoa do singular, mas existem.
É mau se dermos demasiada língua mas é igualmente mau se dermos pouca. É mau se formos sôfregos mas é pior se estivermos em coma durante um beijo. Com todos estes requisitos e variantes possíveis um beijo torna-se uma ciência complexa e extensiva. A quantidade de língua, o tombar correcto da cabeça, a posição e ocupação das mãos, o mordiscar ou o sugar ao de leve do lábio e até o pequeno tocar de nariz em nariz, vulgo “esquimó”, pontuado compassos do beijo: tudo isto faz da preparação e concepção do mesmo algo parecido à exploração espacial.
Não é meu objectivo, com este texto, incitar a uma libertinagem sem fim pelas ruas deste País, longe de mim defender uma anarquia emocional desse tipo. Aliás, digo mesmo que as pessoas que saltam demasiadas vezes de lábios em lábios até conseguem perder o gosto pelo beijo. É como comer marisco. É óptimo quando se sabe avaliar e saborear a importância de cada pata de lagosta. Se comermos todos os dias, perde o encanto. E dá problemas intestinais.
Foram os Indianos, em 2500a.c. que primeiro utilizaram o beijo como forma de agradecimento e reconhecimento dos seus Deuses. Mas tiveram de ser os Romanos a “comercializar” a coisa. Começaram a usá-lo como modo de cumprimento, aos mais reles na mão e aos mais importantes na boca. Só aos familiares mais chegados é que era uma pancadinha nas costas com um punhal afiado. Actualmente, tal acto apaixonado está imortalizado em obras culturais importantíssimas como a escultura de Rodin, o final de “Casablanca” ou o espectáculo da MTV, com a Madonna e a Britney Spears a trocarem saliva.
Independentemente se beijamos mal, bem ou demasiadas pessoas, o importante é sabermos aproveitar cada um deles. Da próxima vez que derem um, pensem nas formigas. Não que elas sejam sexy's, mas o acto de “beijar” para elas é uma forma de passar alimentos. É um gesto íntimo, importante e vital para sua sobrevivência. Portanto, até podem começar a trocar receitas culinárias de formas estranhas, mas nunca, nunca banalizem um beijo.
Agradecido a todos as Formigas, Romanos e Formigas Romanas pela invenção,
Guilherme Fonseca
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