Quinta-feira, 4 de Junho de 2009

#2.40 - game on!

 

           Impressionante. Em quase dois anos de “Coçadelas” nunca falei de videojogos. Olá, o meu nome é Guilherme Fonseca e sou mais nerd que benfiquista. É como estar à conversa com amigos de longa data e descobrir-mos uma característica dele que nunca tínhamos ouvido falar mas que sempre lá esteve. “Ah, mas tu tens uma tatuagem? Onde? Porque estiveste na guerra?! Onde fizeste dois filhos?! Bem…” Eu adoro videojogos. Aliás, gosto tanto que filho meu há-de jogá-los ainda na maternidade. Ou julgam que o tetris foi só inventado para se jogar na casa de banho?
            A casa de banho é a melhor altura para ficarmos nostálgicos. E não estou a falar de nostalgia pelo nosso próprio corpo, estou a falar pelos videojogos que já não há em consolas, apenas no telemóvel. Pong, Archangel, Tetris, Puzzlebubble, Castelvannia e 32 bits por aí fora. Eu até digo mais, de peito cheio: quando vou à casa de banho não aproveito para matar saudades do Pong. Eu quando vou matar saudades do Pong aproveito para ir à casa de banho.
            Não há nada como ter uma costela “oldschool” no que toca a videojogos. Não só nos consegue deixar uma lágrima no canto do olho quando falamos dos barulhos, tempos de espera ou gráficos precários como nos deixa saborear muito melhor os jogos de hoje em dia. Sabemos o que custou a cá chegar. Sabemos o que a espécie teve de evoluir, crescer, melhorar, para chegar ao HD e estivemos lá durante a sua história. Eu podia tanto ser um José Hermano Saraiva dos descobrimentos do Super Mário tal como qualquer um de vocês.
            Se eu tivesse de fazer uma percentagem do tempo da minha vida durante o qual estive agarrado a consolas, as mulheres iam ficar envergonhadas por mim. Só na adolescência eram horas obscenas a ajudar o Mário a salvar princesas de um dragão com mau hálito, ou a empurrar criaturas azuis com amigos de duas caudas a rebolarem por encostas a baixo. Sem nunca deixar as consolas adoptei também o computador. Onde por exemplo, conheci a mulher da minha vida. O meu amor platónico, a mulher que me acompanhou por vários períodos da vida enquanto eu a ajudava a subir escadas, disparar contra ursos ou rebentar barcos em Veneza. Duas palavras disparam o meu coração. Lara. Croft. A minha eterna noiva. Tão longe e aqui tão perto.
            Mas não só amor e paixão vivi com as consolas. Estive na guerra. Fosse contra criaturas estranhas em masmorras ou contra soldados nazis enquanto construía uma base melhor, sempre em alerta vermelho. Tive medo, fosse quando fugia de aranhas em Doom 3 ou simplesmente quando o Rei Leão foge de gnus em polvorosa no seu jogo da Mega Drive. Só quando me pediam para conduzir é que eu ficava estranho. Sou muito picuinhas com jogos de carros. Ou me permitem dobrar chassis como a Paris Hilton se dobra em vídeos caseiros ou não ponho as mãos num volante. Um jogo de carros tem de ter metal e pneus a voar em câmara lenta. Ou é “Burnout” ou façam vocês corridas com o Colin Mcrae. Para rallys tenho horas de ponta em Lisboa.
            Podia acabar a dizer que também consigo ser um psicopata perigoso quando me transformo num russo recém-chegado aos EUA e começo a espalhar o terror pelas ruas de Liberty City, mas já me estaria a alongar. A verdade é que um vídeo jogo nunca fez mal a ninguém. Milhares muito menos. Não só me conseguem fazer viajar e sonhar como apenas livros e filmes conseguem, como ainda me permitem fazer parte da experiência durante o processo. Já fui tantas pessoas, criaturas e animais em tantos planetas, terras e universos, já passei por tanto que não imaginam as histórias que tenho para contar e os calos que tenho para mostrar.
 
Desejoso que a Playstation acabe de ligar,
Guilherme Fonseca
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publicado por Guilherme Fonseca às 14:02
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Todas as Quintas o humorista Guilherme Fonseca publica um novo texto!

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